Mantendo uma das mais lamentáveis tradições políticas do País, que é a tendência de governantes eleitos por um partido de revogar as políticas adotadas por antecessores que pertencem a partidos adversários, o prefeito Fernando Haddad (PT) acabou com a aplicação da Prova São Paulo.
Criada na gestão José Serra-Gilberto Kassab, a Prova São Paulo integra o Sistema de Avaliação de Aproveitamento Escolar do Município e seus resultados fornecem informações para diagnósticos, planejamento e formulação de projetos de melhoria do processo de aprendizagem dos estudantes. Segundo Haddad, a Prova São Paulo – que vem sendo aplicada desde 2007 – seria desnecessária, uma vez que a qualidade da rede municipal de ensino fundamental pode ser acompanhada por meio de uma avaliação feita pelo governo federal em todo o País – a Prova Brasil. Como existe uma avaliação externa, não é preciso uma avaliação interna, afirmou.
Haddad também alega que o exame é caro, tendo custado mais de R$ 6 milhões na edição de 2012. E afirma que, até sua posse, em janeiro, a Prefeitura não vinha usando os resultados da Prova São Paulo no planejamento escolar. Com problemas de metodologia, o exame oferecia resultados incorretos, sem serventia para fundamentar políticas educacionais, afirma.
“Avaliando a série histórica da aplicação da Prova São Paulo, não conseguimos observar tendência alguma, nem para cima, nem para baixo, nem para nada. Os resultados são totalmente discrepantes entre uma edição e outra. Nos últimos dois anos foram desperdiçados R$ 14 milhões, porque os dados não puderam ser aproveitados. É um desperdício muito grande para a cidade”, diz o secretário de Educação de Haddad, Cesar Callegari.
Segundo ele, com a extinção da Prova São Paulo a Prefeitura concentrará os esforços e os recursos em provas elaboradas pelas próprias escolas. A ideia é aplicar dois tipos de exames – uma prova bimestral e as chamadas avaliações diagnósticas, para verificar deficiências dos currículos.
“A avaliação deve ser feita em período menor que o anual, no mínimo quatro vezes por ano”, afirma Haddad. “Para avaliações gerais, usaremos a Prova Brasil. E daremos apoio técnico para que as escolas façam avaliações próprias”, promete Callegari. “A Prova São Paulo serve de base para o planejamento escolar. Ela permite que as escolas da rede municipal saibam o desempenho de cada aluno no início de cada ano letivo”, refuta o secretário de Educação do governo Kassab, Alexandre Schneider.
Apesar de ter invocado o conhecimento da área por ter sido ministro da Educação, o prefeito Fernando Haddad está equivocado quando afirma que a Prova São Paulo seria uma justaposição da Prova Brasil. As duas avaliações medem a qualidade do ensino da rede pública, mas têm diferenças importantes. Criado em 2005, quando Haddad assumiu o Ministério da Educação (MEC), o exame do governo federal é aplicado a cada dois anos. Já o exame municipal, que foi extinto, era anual.
Em matéria de escopo e de abrangência, as duas provas também são distintas. A Prova Brasil, por exemplo, é composta por testes de língua portuguesa e matemática para alunos da quinta e da nona séries do ensino fundamental.
Já a Prova São Paulo consiste em uma redação e testes de língua portuguesa, ciência e matemática que devem ser respondidos por todos os alunos das terceiras, quintas, sétimas e nonas séries, além de uma amostra de alunos das segundas, quartas, sextas e oitava séries.
Na realidade, Haddad está seguindo na Prefeitura o mesmo estilo de gestão de sua passagem pelo MEC – criar programas novos com objetivos eminentemente políticos e partidários, eliminar as realizações de seus antecessores e aplacar o descontentamento de professores “companheiros”. Foi assim que ele substituiu o Provão pelo Enade e agora acaba com a Prova São Paulo, valorizando uma iniciativa adotada quando ocupou o Ministério da Educação – a Prova Brasil.
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