CARLOS LORDELO E PAULO SALDAÑA
As faculdades de Medicina, Direito e a Escola Politécnica – as principais e mais tradicionais unidades da USP – rejeitaram o projeto de cotas proposto pelo governo estadual, batizado de Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Público Paulista (Pimesp). As unidades se posicionaram favoravelmente à adoção de uma política de cotas, que imponha metas a serem alcançadas, mas não como o Pimesp projeta.
Medicina, Direito e Engenharia estão entre as unidades com as menores proporções de alunos da rede pública na USP. Porta-voz do Pimesp, Carlos Vogt, da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), admite que o programa precisa de mais reflexão e a adoção pode ser adiada. O governo queria as cotas em vigor já no próximo vestibular.
A ideia é que, em três anos, 50% das matrículas em cada curso sejam de alunos da escola pública, com reserva de vaga para pretos, pardos e indígenas. Mas a maior discordância da proposta é a criação de um college – curso semipresencial de dois anos pelo qual parte dos cotistas passaria.
Lançado em dezembro, o Pimesp foi feito pelos reitores da USP, Unicamp e Unesp a pedido do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A proposta seguiu para debate nas unidades, antes da definição nos Conselhos Universitários – cabem a eles a decisão final, mas, na USP, o posicionamento dessas unidades pode ser decisivo.
Na USP, as unidades têm até quinta-feira para se pronunciar. Ontem, a Congregação da Poli votou e rejeitou o Pimesp. `Mas precisamos dar uma resposta à sociedade e oferecer alguma alternativa`, diz o doutorando Caio Cesar Fattori, de 29 anos, representante dos alunos da pós-graduação na congregação.
Comissão criada na unidade para debater as cotas já havia produzido um documento que defendia uma política de cotas, mas não da forma proposta pelo governo. O documento não foi votado ontem e uma proposta alternativa ainda será debatida.
Além de rejeitar o Pimesp, a Faculdade de Medicina propõe que a USP crie um programa de avaliação continuada para encontrar os melhores alunos nas escolas. Até que isso não fique pronto, a ideia aprovada é ampliar a bonificação do Inclusp, programa de inclusão da USP para alunos de escola pública.
O college não foi poupado. `Como está, não dá qualificação e se assemelha a um nivelamento`, diz o presidente da comissão de pesquisa da unidade, Paulo Saldiva. Segundo ele, o respeito ao porcentual de cotistas deve ser mantido. `A USP precisa se comprometer com a inclusão.`
Para a Faculdade de Direito, o Pimesp não atende aos `objetivos de democratização do acesso à universidade`. A unidade pede mais estudos sobre inclusão. O documento foi enviado ontem à reitoria pelo diretor Antonio Magalhães Gomes Filho. `Não há dados que justifiquem uma preparação prévia para que os cotistas entrem na universidade.`
Adiamento. Para Vogt, a rejeição não enfraquece o programa, mas há o risco de as metas não começarem a valer em 2014. `Se a coisa andar nesse ritmo, é preciso refletir sobre a dinâmica de implementação do programa`, diz. Segundo Vogt, as questões levantadas podem ser incorporadas. Ele reconhece a necessidade de mais reflexão. `Precisamos buscar uma solução conjunta.`
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