Para cada pessoa branca que morre assassinada em Belo Horizonte, 3,5 negros são vítimas de homicídio. Os dados constam no estudo “Mapa da Violência 2012: A Cor dos Homicídios no Brasil”, lançado nesta quinta-feira (29) na Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República.
Feito pelo pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, o mapa faz as comparações entre assassinatos por cor, idade e Estado, baseando-se nos dados de mortalidade do Ministério da Saúde de 2010 (os mais atualizados). É a primeira vez que o pesquisador faz um mapa temático se debruçando sobre a questão da raça e cor das vítimas.
O estudo traz dados importantes sobre o perfil das vítimas em todo o Brasil. No país inteiro, houve 14.047 brancos assassinados naquele ano, contra 34.983 negros – ou duas vezes e meio mais. No Estado de Minas Gerais, a proporção já é um pouco maior: 2,7 vezes mais vítimas negras que brancas.
Mas em Belo Horizonte a discrepância é bem pior, com 653 negros assassinados contra 189 brancos. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes é de 52,5 para negros e 17,2 para brancos.
A gravidade dos homicídios de negros em capitais como João Pessoa, Maceió e Vitória ainda é bem maior, mas Belo Horizonte tem taxas muitos mais preocupantes que cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza – e outras nove capitais. Entre os 608 municípios com mais de 50 mil habitantes, figura em 116º lugar.
Idade
Outro fator analisado pelo estudo foi a idade da vítimas. Independentemente da cor da pele, o pico de violência ocorre na faixa dos 20 e 21 anos de idade, crescendo sem parar desde os 12 anos.
Mas os jovens negros também são os que mais morrem: entre os 12 e os 21 anos, as taxas
brancas passam de 1,3 para 37,3 em cada 100 mil (aumento de 29 vezes), enquanto as taxas negras passam, no mesmo intervalo, de 2,0 para 89,6 (aumento de 46 vezes).
Além disso, a taxa de homicídio de jovens brancos caiu, entre 2002 e 2010, de 40,6 para 28,3 em cada 100 mil (-30,1%), enquanto a taxa dos jovens negros cresceu de 69,6 para 72 homicídios em cada 100 mil jovens negros (3,4%).
Conclusão
O estudo conclui chamando essas diferenças de “mortalidade seletiva”. E diz que “esses números já deveriam ser altamente preocupantes para um país que aparenta não ter enfrentamentos étnicos, religiosos, de fronteiras, raciais ou políticos” e que “representa um volume de mortes violentas bem superior à de muitas regiões do mundo que atravessaram conflitos armados internos ou externos.”
A pesquisa também fala das “implicações sociais e políticas” dessas diferenças por cor: “O motor dessa vitimização não se encontra no crescimento dos homicídios negros – que aumentaram de forma moderada no período – mas sim nas fortes quedas dos homicídios brancos, o que nos remete não a contextos globais da sociedade, mas sim a estratégias e políticas de segurança e proteção da cidadania que incidem diferencialmente nos segmentos da população.”
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