Numa tentativa de chamar atenção para o banho de sangue mostrado pelas estatísticas anuais sobre a violência no país, os coordenadores do Mapa da Violência fizeram um quadro comparativo da realidade nacional com a matança nas principais guerras dos últimos anos. O resultado é assustador: o número de assassinatos no Brasil entre 2004 e 2007 é maior que as baixas dos 12 dos maiores conflitos armados no mesmo período. Nestes quatro anos, 192.804 pessoas foram assassinadas a tiros no Brasil. As guerras provocaram a morte de 169.574 pessoas.
Nesta contabilidade entraram dados sobre assassinatos no Iraque, Afeganistão, Paquistão, Palestina e Colômbia, entre outros. “No Brasil, país sem disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, morreram mais pessoas vítimas de homicídios que os 12 maiores conflitos armados do mundo”, diz o Mapa da Violência 2013, coordenado por Julio Jacobo Waiselfisz.
O Mapa é elaborado a partir de dados do Ministério da Saúde, no Brasil, e da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre outras fontes de informação sobre violência e segurança pública.
Pelo estudo, entre 2004 e 2010, foram mortas 76.266 pessoas no Iraque, 12.719 no Sudão, 12.417 no Afeganistão e 11.833 na Colômbia. Nas áreas de conflito entre Israel e Palestina foram registrados 2.247. Nenhum deles chega perto da marca brasileira.
A situação é ainda mais dramática quando se amplia o período da pesquisa. De 1980 até 2010, pelo menos 799.226 pessoas morreram vítimas de armas de fogo no Brasil. “Isso mostra a crueza de nossos números”, disse Jacobo.
O Mapa mostra ainda que o número total de mortes por armas de fogo no Brasil em 2010 – 38.892 (homicídios e suicídios) – é maior que as baixas anuais de guerras civis ocorridas em Angola (1975-2002), na Guatemala (1970-1994), no massacre dos Curdos (1961-2000) e na guerra entre Rússia e Chechênia (1994-1996), entre outros dos mais sangrentos conflitos armados do planeta nas últimas décadas. As médias mais altas desses conflitos giravam em torno de 20 a 25 mil mortos por ano (casos de Angola e guerra contra a Chechênia), número bem abaixo das mortes violentas registradas anualmente no Brasil.
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