País teve mais assassinatos do que países em guerra como Afeganistão, Somália e Sudão
Com alguns dados que surpreendem, o Mapa da Violência, organizado pelo Instituto Sangari, com informações também dos ministérios da Saúde e da Justiça, mostra como sendo muito violenta a primeira década do Século 21 no Brasil: “O raio X da violência se limita a casos de homicídios, não se refere a outros tipos de fatos ou situações violentas também comuns na realidade brasileira atual, mas mesmo assim pontual os números são alarmantes e traçam um perfil do país que ainda precisa avançar muito em termos de qualidade de vida”, comentou o ecologista Padinha, editor de conteúdo do nosso blog Folha Verde News, ao analisar a situação configurada neste mapa de ocorrências policiais. Para exemplificar, o Brasil teve 49.932 homicídios apenas no ano de 2010, a taxa de crimes com assassinatos ficou em 26, 2 mortes para 100.000 habitantes. O número significa uma pequena redução em relação a 2009, quando a taxa foi de 27 mortes, mas a taxa é superior a de conflitos armados em países como o Afeganistão, a Somália, ou o Sudão. Qualquer taxa acima de 10 mortes por 100.000 pessoas é considerada epidêmica por organismos internacionais. A epidemia da violência tirou 1 milhão de vidas nos últimos 30 anos no Brasil.
O maior índice de homicídios é o de Alagoas, com 66, 8 mortes por 100.000 habitantes. Em seguida, vêm o Espírito Santo (50, 1), Pará (45, 9), Pernambuco (38,8) e Amapá (38,7). Os menores números são os de Santa Catarina (12,9), Piauí (13,7), –surpreendentemente – São Paulo (13,9), Minas Gerais (18,1), Rio Grande do Sul (19,3) e Acre (19,6). Entre as capitais, Maceió é a que tem o maior número de homicídios por habitante. São Paulo possui a menor taxa. A trajetória da capital paulista, aliás, chama a atenção: em 2000, a cidade tinha a 4ª maior taxa entre as capitais. De lá para cá, o índice de homicídios no município caiu cerca de 80%, mesmo considerando-se a onda de violência de 2012/2013. “A grande novidade é que há um processo de nivelamento nacional da violência que não existia dez anos atrás. Há dez anos, ela estava concentrada somente nas regiões metropolitanas. Agora se espalhou. As taxas dos sete estados que em 2000 eram os líderes de violencia cairam, e os sete que tinha as taxas menores subiram”, diz Julio Jacobo, coordenador da pesquisa do Instituto Sangari.
O país da violência?
Uma análise em perspectiva mostra um aumento da violência nas regiões Norte e Nordeste: entre 2000 e 2010, o número de homicídios mais do que quadruplicou no Pará, na Bahia e no Maranhão. A maior queda se deu em São Paulo, que registrou uma redução de 63, 2% no número de homicídios durante a década passada, mesmo com o aumento populacional. O Rio de Janeiro (outra surpresa, se levarmos em contra o noticiário policial do dia a dia da mídia) também teve uma diminuição expressiva, de 42,4%, no período. A pesquisa mostra que os números da violência têm se estabilizado nas capitais, enquanto a criminalidade avança nas cidades menores do interior. De acordo com o levantamento, três causas contribuíram para essa mudança de perfil: a desconcentração econômica do país, o aumento do investimento em segurança nas grandes cidades e até a melhoria nos sistemas de captação de dados sobre crimes nos pequenos municípios. A violência nestes últimos anos passou a fazer parte da rotina de vida de todos os brasileiros e brasileiras, das mais variadas regiões do nosso país.
A violência entre os jovens continua mais elevada do que no restante da população: a taxa de homicídios entre os que têm até 30 anos é o dobro da média nacional. A faixa mais crítica é entre os 20 e os 24 anos. Os homens continuam sendo as maiores vítimas da violência: 91% dos homicídios registrados no Brasil em 2011 envolveram pessoas do sexo masculino. Os negros também são um grupo em situação mais vulnerável nesse quesito: no ano passado, morreram 139% mais negros do que brancos. Ou seja: mais do que o dobro. Enquanto a taxa de homicídios entre os afro-descendentes cresce, ela cai no restante da população. No Brasil, a violência urbanaatingiu números alarmantes, porisso chegando a ser comparada como mais mortal que a própria guerra do Iraque e Afeganistão, onde as mortes são menores que no Brasil, como escreveu o jornalista Antônio Carlos Lacerda em matéria especial no site Pravda Ru.
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