O forte processo de interiorização dos casos de homicídio no País, onde os polos dinâmicos da violência se deslocam das capitais e/ou regiões metropolitanas rumo ao interior dos Estados, é uma das constatações do Mapa da Violência 2012, recentemente divulgado em âmbito nacional, e que traz um panorama dos 30 anos analisados pelo estudo – entre 1980 e 2010. Com base nos dados trabalhados na pesquisa e na intensidade do processo observado, a conclusão é de que em menos de uma década, as taxas de homicídio registradas no interior ultrapassarão as dos grandes centros, caso as atuais condições inerentes à segurança sejam mantidas.
Conforme o Mapa da Violência, até o ano 2000, os municípios que catalogaram maior elevação nos índices de homicídio foram os que abrigavam mais de 100 mil habitantes, principalmente aqueles com mais de 500 mil. Já as cidades de menor tamanho também registraram aumento nas taxas, mas em escala mais reduzida. No entanto, na última década, a majoração dos casos de homicídio nos municípios com mais de 500 mil moradores foi negativo, e os de 100 a 500 mil tiveram poucas alterações. O crescimento mais expressivo deste tipo de crime ficou centralizado nas cidades de menor porte, com destaque para aquelas entre 20 e 50 mil habitantes, que antes deste fenômeno contavam com índices relativamente baixos.
Todas estas constatações demonstram que a violência – em suas manifestações mais severas, como o homicídio – deixou de ser típica dos grandes centros urbanos para se tornar cada vez mais corriqueira em cidades pequenas, onde a população está acostumada a viver despreocupada, sem dar atenção até mesmo aos quesitos básicos de segurança preventiva, e, muitas vezes, despreparada para lidar com crimes violentos.
Contudo, esta desatenção das pessoas em relação à segurança preventiva destoa cada vez mais das ações praticadas pelos criminosos, que a cada delito cometido se mostram mais profissionais e audaciosos – uma ousadia que não se restringe aos casos de homicídio. Exemplo disso, um tipo de crime que apavora a população, e que há algum tempo era visto somente nas grandes cidades, tem se tornado comum no interior: o sequestro-relâmpago.
Os bandidos se aproveitam da desatenção das vítimas para atacá-las. Por isso, cuidados como manter os vidros do carro fechados e as portas travadas deixaram de ser exclusividade das capitais. Um caso ocorrido recentemente em Itu, no interior de São Paulo, ilustra bem o desespero de quem se vê sob o domínio de criminosos. Uma mulher, vítima de sequestro-relâmpago, ficou em poder de bandidos por quase quatro horas. Desesperada, ela pulou do carro em movimento quando já estava em Santo André, no ABC Paulista.
Moral da história: ao mesmo tempo em que falta a cultura de segurança preventiva à população, especialmente aos moradores das cidades de menor porte, os criminosos se profissionalizam, portam armas de última geração, e atuam meticulosamente buscando esse novo território. A segurança precisa ser levada a sério, pois enquanto for tratada com amadorismo, não conseguirá inibir as ações dos profissionais do crime.
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