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A solenidade de apresentação, com nome e sobrenome, do Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, intitulado Juventude Viva, no município de Maceió, corria, com cara de festa, apesar da ausência no mapa do futuro, de muitos e tantos jovens negros que tiveram as vidas amputadas pelo abandono social do estado alagoano.
O Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, intitulado Juventude Viva , responde a uma demanda histórica dos movimentos sociais, representa uma prioridade apresentada pelos jovens que participaram da 1ª e 2ª Conferência Nacional de Juventude, realizadas em 2008 e 2011, e visa confrontar o racismo transvestido de violência, estabelecendo possibilidades de vida para a juventude, especialmente a juventude negra.
Alagoas é o estado mais violento do país; sua capital, a 3ª mais violenta do mundo. Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, “em Alagoas é assim: enquanto se mata um branco, 20 negros são ‘exterminados’.
Crianças e jovens dos bairros periféricos, nus e vazios, dos direitos essenciais previstos na constituição (Somos tod@s iguais?), mas investidos de bandeiras coloridas, concebidas na necessidade de sobrevivência lotaram o Teatro Gustavo Leite do Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, localizado no histórico e abandonado bairro de Jaraguá.
Esses meninos e meninas, quase nunca, vão ao Centro de Convenções, porque a cultura que habita no Centro de Convenções não comporta a pobreza desses meninos e meninas.
Facetas antagônicas de uma história secular: pobres e pretos tecendo a vida em ruas de paralelepípedos, becos escuros, escadarias escorregadias e oportunidades desiguais.
Uma menininha do Conjunto Carminha vestindo o vermelho do bombeiro-mirim, alvoroçada por estar em um mesmo espaço com o poder, puxa minha manga de camisa e afirma sorridente: -Sabe, o Téo? Eu dei um presente pra ele.
O Téo que ela se refere é o governador do estado de Alagoas, Teotônio Vilela Filho.
Atenta ao entusiasmo da menina, pergunto-lhe se ainda há muita violência no Conjunto Carminha, e ela me responde: – Sim, muita! Outra menina maior entra na conversa com folego midiático e retruca: – Não há mais muita violência, só um pouco, agora.
Olho as tantas crianças vestidas de bombeiro com a pobreza colada em semblantes e a fome gritando no olho agudo que lançam para o biscoito que tiro da bolsa.
E pergunto-lhe do lanche. E elas me respondem: -Está no ônibus. E novamente quero saber o que é esse lanche. Um monte de biscoito- me responde o menino, acima do peso.
A tarde da sexta-feira já beirava às duas horas da tarde e o estomago dos meninos e meninas pequenas, que chegaram muito cedo, urravam de fome, mas em nome da cidadania forjada estavam lá para apresentar os “avanços” da força tarefa no bairro. Nossa UPP.
Cartazes apostos nos bracinhos abertos estavam perfilados na escadaria ,porque a tia disse que eles iriam subir ao palco com os cartazes, mas foram, estrategicamente, colocados lá, para bater tambor e ensurdecer outros gritos saídos da plateia.
As crianças vestidas de bombeiro-mirim foram esquecidas lá embaixo, com suas fomes e vontade de, só por um dia, serem protagonistas.
Mais adiante me deparo com crianças muito pequenas com roupa de karatê e pergunto-lhes se vão fazer alguma apresentação e elas dizem que não. E inquiro: Então, porque vieram com essa roupa? É para mostrar – me diz a menina. Mostrar o que, não entendo?- E ela sorridente: – O Conjunto Carminha.
Inquieta pergunto-lhes: Vocês sabem o que vieram fazer aqui? As cabeças mudas e em uníssono balançam em negativa.
O Conjunto Carminha é parte integrante do complexo Benedito Bentes que é um dos maiores bairros, da parte alta, do município de Maceió e um dos mais populosos, com cerca de 220 mil habitantes. Após uma decapitação em praça pública, no Conjunto Carminha, a polícia alagoana assumiu os espaços da segurança e as crianças vestidas de bombeiro e caratecas vieram contar desses “avanços”, apesar da fome estampada na cara, depois de quase três horas de cerimônia.
E Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra, intitulado Juventude Viva foi lançado em Maceió, no dia 27 de setembro, dia dos Ibejis.
Que ele nos chegue para vencer as dificuldades e democratizar a resistente estrutura do estado alagoano, que sistematicamente, nega a herança negra das terras de Zumbi.
Que a terra seja leve para os falecidos pretos jovens. Vidas, agora, sem nenhum futuro.
 As famílias dos falecidos jovens pretos não foram convidadas para a festa nobre.