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Especialistas indicam que a geração de empregos e o aumento do poder aquisitivo do nordestino “seduz” o crime, rechaçando a tese de que o número de homicídios, por exemplo, está diretamente ligado à desigualdade social

Leonardo Lucena_PE247 – Nordeste: região que mais cresce economicamente no Brasil, com alta geração de empregos e o consequente aumento do poder aquisitivo. Pensando por esse lado, tem-se motivos de sobra para comemorar. Mas, numa relação diretamente proporcional ao crescimento econômico, os indicadores de homicídios também são os mais altos do país. Isso é um ensejo para uma reflexão sobre as causas que concretizam tal realidade em meio às teses que creditam a violência à pobreza e à desigualdade social.

Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e autor do livro Homicídios no Nordeste: dinâmica, causa e desmistificações, José Maria Nóbrega Júnior explica que não há relação de causa/consequência entre assassinatos, de um lado, e pobreza, do outro. “Nos últimos dez anos, o Nordeste passou por uma considerável expansão econômica e um processo imigratório muito grande. Mas, quando não só os trabalhadores vem buscar oportunidades na região, os criminosos vêm juntos”, afirma.

Segundo Nóbrega, a fraqueza do Poder Público, aliado a uma segurança pública ineficiente, são determinantes a “onda de mortes” na região. “O sistema carcerário também é esdrúxulo, com estruturas arcaicas. Não há eficácia, por exemplo, no controle para que os encarcerados não mantenham contatos com traficantes de fora dos presídios”, acrescenta o estudioso.

Com base em dados divulgados pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (Flacso), em 2000, apenas um Estado nordestino figurava entre os dez mais violentos do Brasil – Pernambuco, que liderava o ranking, com taxa de 54 homicídios para cada 100 mil habitantes. Os outros, levando em consideração a taxa para essa quantidade de habitantes, pela ordem eram: Rio de Janeiro (51), Espírito Santo (46,8), São Paulo (42,2), Mato Grosso ( 39,8), Roraima (39,5), Distrito Federal (37,5), Rondônia (33,8), Amapá (32,5) e, por fim, Mato Grosso do Sul (31).

Dez anos depois, o panorama ficou da seguinte forma: em primeiro lugar, Alagoas, com taxa de 66,8 homicídios para cada 100 mil habitantes; Espírito Santo (50,1), em segundo; Pará (45,9) em terceiro; em seguida, Pernambuco (38,8), Amapá (38,7); Paraíba (38,6); Bahia (37,7); Rondônia (34,4); Paraná (34,4) e Distrito Federal (34,2). Ou seja, em 2010, quatro Estados entre os dez mais violentos do Brasil estão no Nordeste.

Para o coordenador da Área de Estudos da Violência da Flacso, Júlio Jacob, não foi só o processo de descentralização econômica no país que mudou este cenário. “Plano de Segurança Nacional 1999 e Fundo Nacional de Segurança priorizam esses Estados que eram as mais violentas na época (final nos anos 90/começo dos anos 2000)”, avalia. “Já em outras Unidades Federativas (UFs), com novos recursos e dinamismo, o aparelho de segurança estava despreparado e sem investimentos”, completa o pesquisador.

No entanto, vale ressaltar que programas como o Pacto pela Vida, aplicado em Pernambuco, conseguiu estabelecer uma linha descendente para o número de homicídios no Estado. Em junlho, foi alcançado o menor registro nos últimos 18 anos número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) – homícios, latrocínios e lesão corporal seguida de morte –, com taxa 36,51 por cada 100 mil habitantes. Foram registradas 222 mortes contra 359 em igual período de 2011, uma redução de 157 óbitos, o equivalente a 24,5%.