No Mapa da Violência 2012, o município de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador, aparece com a maior taxa de homicídios do país. Com 118 mil habitantes, a cidade registrou, em 2010, índice de 146 assassinatos por 100 mil, quase seis vezes mais que a média nacional (de 26,2 por 100 mil) e mais que o dobro do país mais violento do mundo (El Salvador, que tem índice de 71 mortes para cada 100 mil moradores).
A gravidade do problema, claro, garante a questão no centro do debate eleitoral. Apesar de a segurança pública ser atribuição dos governos estadual e federal, o assunto tornou-se tema de promessas de campanha dos três candidatos à prefeitura. Hoje, a violência é uma das principais queixas da população. Enquanto isso, autoridades reclamam da fama “injusta” de “capital da morte”, resultada da divulgação da pesquisa.
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Carros com tiros em frente à delegacia da cidade; clique na imagem para ver mais fotos
Entre as propostas, algumas chamam a atenção pela dificuldade na concretização. O candidato Jorge Sales (PC do B) tem no plano um “eixo de governo” em que trata exclusivamente de segurança e direitos humanos. Ele promete atuar na prevenção, com sistema de vigilância por câmeras (já existente na cidade), regulamentação do funcionamento dos bares e até a criação de “policiamento escolar”.
Candidato à reeleição, Eduardo Alencar (PSD) também não deixou o assunto de lado e promete, em seu plano de governo, “segurança pública inteligente.” “Fortaleceremos ainda mais a segurança municipal inteligente, com muito ativismo, novas tecnologias, com cooperação total entre os governos do Estado e Federal”, diz, sem citar detalhes.
O prefeito também promete, de forma genérica, “promover ações setoriais com influência direta e indireta na busca da segurança e prevenção à violência”.
Já o candidato Dinha (PMDB) propõe a criação da Diretoria do Controle do Patrimônio Público e Prevenção da Violência, que seria responsável pela coordenação da política municipal de prevenção da violência.
Dinha também quer criar a Lei do Conselho Municipal de Segurança Pública, que integraria os órgãos municipais, sociedade civil e polícias estaduais para “estabelecer diretrizes para ação preventiva da violência na cidade”.
Capital da desova?
Para especialistas, Simões Filho enfrenta um problema conhecido como “interiorização da violência”, que assolou cidades de médio porte nos últimos anos. Mas as autoridades fazem coro para questionar a fama de “capital da morte”. Segundo toda a cúpula de segurança, parte significativa dos assassinatos catalogados não são de moradores da cidade, mas sim, “desovas” de corpos, isto é, corpos de vítimas de homicídio que são despejados na região por criminosos, especialmente de crimes ocorridos em Salvador.
A preocupação da cidade com a má fama é tamanha que várias ações foram tomadas para mapear e conter as desovas. “Por conta desse mapa perdemos 14 indústrias que iriam se instalar em Simões Filho e não vieram mais”, conta uma funcionária da prefeitura.
Rogério Pereira Riberio , delegado plantonista
Para tentar reverter a situação, a prefeitura resolveu investir na catalogação das vítimas que seriam, de fato, moradores da cidade para “provar” que a violência no município está dentro da média.
“Nós implantamos um observatório de segurança pública, onde estamos fazendo um georeferenciamento para fecharmos estatísticas de quantos dos corpos encontrados em Simões Filho são de pessoas daqui. O que sabemos hoje é que muitas das vítimas são encontradas aqui, mas não são enterradas na cidade. Ou seja, o crime entra na nossa conta, sem ser uma morte ocorrida em Simões Filho. Em breve teremos dados exatos”, conta Carla Cristina, coordenadora do Gabinete de Gestão Integrada de Segurança Pública.
Segundo dados da Polícia Civil, até julho foram registrados 90 homicídios na cidade, sendo que 44 deles foram classificados como desovas. “E esse número já caiu 40% nos últimos meses por conta de operações que começamos a realizar, de forma constante, com monitoramento das áreas de desovas, inclusive por helicóptero”, diz o major Jorge Paraíso, chefe da 22ª Companhia Independente da Polícia Militar.
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Centro de monitoramento da GCM da cidade; clique na imagem para ver mais fotos
Desde março de 2011, a cidade é monitorada por 24 câmeras, que mandam imagens para uma central, que conta com policiais e guardas municipais 24 horas por dia. “Essas imagens são armazenadas de 30 a 45 dias, com visualização das entradas da cidade, áreas de vulnerabilidade e bairros com maiores índices de homicídios. Temos um projeto para mais 24 câmeras, que devem ser instaladas em breve”, diz Carla Cristina.
Sobre iluminação pública, Cristina alega que existe um projeto orçado em R$ 1,5 milhão, em parceria com o governo do Estado, para iluminar toda a área do Centro Industrial de Aratu, mas que ainda está em fase de implantação. “Vamos ter também bases comunitárias, que vão ajudar a reduzir ainda mais esse índice”, contou.
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