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Rio Claro está entre as 70 cidades brasileiras com maiores taxas de violência contra crianças e adolescentes. É o que aponta a nova edição do Mapa da Violência, elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e editado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e o Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos (Cebela).

O estudo comparou os dados de 2010 referentes às cidades com mais de 20 mil crianças e adolescentes. Pelo Censo de 2010, totalizavam 523 os municípios nessa situação. A pesquisa foi feita com base nos atendimentos realizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde) notificados ao Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), do Ministério da Saúde.

De acordo com a pesquisa, Rio Claro ocupa a 12ª posição entre 70 municípios, com taxa de violência física de 223,3. Foram 114 casos registrados contra crianças e jovens de 1 a 19 anos. O maior índice de violência foi cometido contra adolescentes com idades entre 15 e 19 anos: 61 casos. Em seguida, está a faixa etária de 10 a 14 anos, com 31 registros. De 5 a 9 anos foram 6, e de 1 a 4 anos e 1 ano ficaram empatadas com oito atendimentos cada.

No caso de violência sexual, o estudo aponta taxa de 27,4, com 30 atendimentos realizados pelo SUS no município, sendo 14 referente a violência sexual, seis estupro, três assédio sexual, três atentado violento ao pudor, dois exploração sexual e dois pornografia infantil.

O Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), vinculado à Secretaria de Ação Social de Rio Claro, informa que nos anos de 2011 e 2012 os casos atendidos pelo órgão foram em sua maioria de violência física.

Segundo o Creas, no ano passado, “a equipe recebeu 145 encaminhamentos (média de 12 por mês) de crianças e adolescentes, e de pessoas com deficiência que vivenciaram algum tipo de violência”. Desses, 42 referiam-se a violência física, 35 sexual, 33 negligência, 20 psicológica e 15 casos envolvendo outros tipos de situação. Outros 742 atendimentos foram realizados em acompanhamento psicossocial.

Em 2012, de janeiro a junho, foram encaminhados ao Creas 89 casos de violência (média de 14,8 por mês). Desses, 31 eram casos de violência física, 25 de negligência, 17 de violência sexual e 16 de violência psicológica. No total, ocorreram 377 atendimentos psicossociais a essa população.

Para o Creas, esse crescimento de registro pode não refletir o aumento de casos de violência, e sim a alta de denúncias e notificações devido à conscientização da população. Além disso, frisa o órgão, a violência física é mais fácil de ser identificada porque deixa marcas, ao contrários de outros tipos de agressão.

O Creas conclui dizendo que tem implementado ações para prevenir a violência e evitar a reincidência, como o acompanhamento das famílias em que há casos registrados, articulação com outros serviços públicos e privados para garantir uma rede de atendimento, além dos trabalhos de prevenção realizados em diversos setores, como escolas, para orientar as pessoas a identificar os sinais e enfrentar a violência intrafamiliar.

O presidente do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Sérgio Dalaneze, questiona a metodologia utilizada para realização do estudo. Segundo ele, é preciso verificar como foi feita a coleta de dados e que tipo de casos foram classificados como violência física.

Dalaneze reconhece que o município registrou casos de violências física e sexual contra crianças e adolescentes, porém, de acordo com ele, não nessa proporção apontada pelo Mapa da Violência. Opinião similar tem o Conselho Tutelar de Rio Claro, para quem a violência não atingiu esses números apontados pelo estudo.

Luiz Jardim, gerente da Udam (União de Amigos do Menor), comenta que os números são altos e preocupantes. Segundo ele, se forem confirmados, levará o assunto para ser analisado pelos Conselhos de Assistência Social, de Saúde e dos Direitos da Criança e do Adolescente. Para ele, é preciso identificar os “reais motivos” do município estar nesse ranking.

“Não podemos ser hipócritas e não acreditar nos números, pois sabemos que há violência contra crianças e adolescentes nas mais diversas formas, e contra isso temos trabalhado para a implementação de ações preventivas em Rio Claro. Todavia, evidentemente tem sido insuficientes”, avalia. Luiz Laureano Jardim conclui dizendo que o crescimento da violência é decorrência da falta de políticas de prevenção.