A Chacina da Candelária, que completou 19 anos em 23 de julho, foi lembrada nesta sexta-feira (27) em um ato ecumênico na própria Igreja da Candelária e uma missa. Centenas de pessoas, muitas crianças, parentes dos envolvidos no episódio, famíliares e amigos de vítimas da violência no Rio, além de representantes de diversas religiões, estiveram presentes. Depois, os participantes caminharam pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia, onde houve apresentações de esquetes teatrais e brincadeiras.
Tanto tempo depois, a situação da violência enfrentada por crianças e jovens no Brasil vem piorando. O índice de assassinatos de brasileiros com idades entre 0 e 19 anos cresceu 346% nos últimos 30 anos no país. Os dados são do estudo Mapa da Violência 2012, que coloca o país como o quarto mais violento para essa faixa da população no mundo.
Presidente da Comissão Contra a Intolerância Religiosa (CCIR), o babalaô Ivanir dos Santos, lembrou da fatídica sexta-feira quando foram mortos os sete meninos de rua. À época dirigente da Frente de Articulação da População Marginalizada, o representante do Candomblé afirmou que foi um dos primeiros a chegar ao local das execuções.
“Assim como naquela época, continuamos com o papel de chamar a atenção para este tipo de episódio. São quase duas décadas e nada mudou, muito pelo contrário. A situação piora cada dia mais”, lamentou o sacerdote de Ifá.
Membro do Conselho Nacional dos Direitos das Crianças, o advogado Carlos Nicodemos classificou como ‘grave’ a situação de crianças e adolescentes no Brasil. Ex-presidente do Conselho Estadual de Defesa da Criança e do Adolescente do Estado do Rio de Janeiro, reclama da falta de ações governamentais para reverter o quadro.
“Não há política pública eficaz que modifique a situação desta população brasileira”, avaliou. “O Estado tem de incentivar campanhas de prevenção à violência e estimular a convivência familiar. Além disto, deve criar dispositivos que aumentem a responsabilização dos agressores. E, principalmente, mobilizar a população contra estas agressões”.
Meninos e meninas lembram tragédia que vitimou 7 crianças no Rio / foto: Tânia Rêgo/ABr
Patricia de Oliveira, irmã do principal sobrevivente, Wagner dos Santos, que após reconhecer os envolvidos refugiou-se na Suíça com receio de novos atentados, chamou a atenção sobre a grande quantidade de jovens desaparecidos no Rio de Janeiro. Desde 1993, ela participa da organização do ato em memória das vítimas da Chacina da Candelária.
“A gente sempre marca espaço porque, como a nossa população esquece muito rápido, buscamos não deixar cair no esquecimento. Esquecer é permitir e lembrar é resistir. É muito importante trazermos o debate para a população”, disse.
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