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Uma das questões mais sensíveis da sociedade brasileira contemporânea é tratada na edição desta quarta-feira, dia 18, dos principais jornais do país. Trata-se dos indicadores de violência contra jovens e adolescentes, uma verdadeira epidemia social que denuncia uma grave patologia, representada pela incapacidade de lidar com a rebeldia natural da juventude.

Os dados do Mapa da Violência 2012 revelam que os assassinatos de jovens até 19 anos cresceram 376% desde 1980, enquanto o total de homicídios com vítimas de todas as faixas etárias subiu 259%. Em muitos casos, os autores das mortes são policiais.

Os números revelam que há baixíssima tolerância, em geral, para atos de delinquência ou simples rebeldia praticados pelos mais jovens. Entre as causas do aumento da violência contra essa faixa da população pode estar a maior liberdade de movimentos que os jovens e adolescentes ganharam nas últimas décadas, passando a se expor mais frequentemente a situações de risco no ambiente externo ao de suas casas.

No entanto, há sinais muito claros, segundo analistas citados pela imprensa, de que a sociedade, de modo geral, os governos e em especial os agentes públicos encarregados da segurança não conseguem lidar bem com o comportamento muitas vezes desafiador da juventude.

Em 1980, os assassinatos de crianças, adolescentes e jovens representavam 11% do total de mortes registradas no Brasil. Em 2010, essa proporção subiu para 43%, segundo os dados do Ministério da Saúde. Ainda que se desconte o fato de que o critério de registro mudou entre 2002 e 2010, com mais qualidade nas estatísticas sobre mortes, não há como escapar ao fato de que é cada vez mais perigoso ser jovem no Brasil.

Outro aspecto que transparece do estudo é que, com a redução das migrações para as grandes cidades, a violência se espalha por todos os lugares. Entre os estados em que mais aumentou o número de assassinatos de jovens e adolescentes estão Alagoas, com uma taxa de 34,8 homicídios por 100 mil habitantes; Espírito Santo, com 33,8; e Bahia, com 23,8 por 100 mil.

Cultura de paz

Os jornais que trazem essas estatísticas também registram casos recentes de adolescentes e jovens mortos em supostos confrontos com a polícia, principalmente nas regiões mais pobres do país. Num desses casos, ocorrido em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, moradores bloquearam ruas e incendiaram um ônibus, em protesto contra o desaparecimento de dois jovens, ocorrido na semana anterior. Eles haviam sido detidos por policias militares e não foram mais vistos.

Esse é um dos casos típicos entre os que engrossam as estatísticas de violência. Mas há também agressões em baladas e outros eventos, brigas de torcidas de futebol, desentendimentos banais e acidentes como causas da perda de vidas muito jovens.

Nos últimos trinta anos, foram 55 mortes diárias, em média, o que coloca o Brasil num lugar destacado em termos de insegurança: somos o quarto país onde mais se mata jovens e crianças em todo o mundo. Os jornais não dão conta de se aprofundar na explicação dessas trágicas estatísticas, mas alguns estudiosos consultados na pressa das edições diárias falam sobre a dificuldade de pais e autoridades de lidar com a imaturidade dos mais jovens.

A juventude é, de fato, o tempo da indisciplina e das contestações, o que pode se revelar fatal, em determinadas circunstâncias, numa sociedade que ainda não se livrou do autoritarismo. Há claramente uma atitude preconceituosa de agentes de segurança contra jovens e adolescentes das comunidades pobres.

Mas há outros elementos não abordados nas reportagens, como o fenômeno da quebra de vínculos sociais. Numa sociedade que experimenta significativas melhorias no campo econômico, seria de se esperar que a diminuição dos quadros de carência extrema se refletisse também na redução de conflitos.

A permanência e até mesmo o agravamento da violência contra os brasileiros mais jovens, e por isso mais expostos aos riscos externos, estão a denunciar a necessidade de uma ação de longo prazo em várias frentes. Numa delas, é preciso reeducar as autoridades e todos os demais agentes de serviços públicos e privados, para que desenvolvam mais tolerância com relação à natural espontaneidade e rebeldia dos mais jovens. Em outra frente, é necessário desenvolver a sério uma campanha permanente em favor de uma cultura da paz.

Em todos esses casos, a participação da mídia é fundamental.