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Enquanto o Brasil amarga o crescimento das taxas de mortes violentas de crianças e jovens, Pernambuco comemora a queda do número de homicídios da população jovem. Os dados fazem parte da pesquisa Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil, elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e editado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americano (Cebela) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Socias (Flacso).

Em todo o país, as vítimas de causas externas, que incluem homicídios, suicídios e acidentes de trânsito somavam, em 1980, 27,9% casos por 100 mil habitantes. Trinta anos depois, em 2010, aumentaram em 14,3%, alcançando 31,9% casos por 100 mil pessoas.

Em toda a região Nordeste, Pernambuco foi o único estado onde foi registrada uma redução do número de homicídios vitimando indivíduos de zero a 19 anos de idade nos últimos 10 anos, entre 2000 e 2010.

No ano 2000, foram 22,3% crimes violentos letais intencionais (CVLIs) contra crianças e jovens para cada 100 mil habitantes, índice que caiu para 19,3 para cada cem mil moradores em 2010, o equivalente a 13,3%.  Em números absolutos a queda é de 20,4%: 746 casos em 2000 contra 594 uma década depois.

Além de Pernambuco, apenas outros cinco estados brasileiros conseguiram reduzir o número de homicídios entre os jovens: São Paulo (76,1%), Roraima (55,9%), Rio de Janeiro (33,3%), Mato Grosso do Sul (7%) e Distrito Federal (4%).

Recife se destaca entre as capitais nordestinas. No ano de 2000 a cidade perdeu 53,3% crianças e jovens para a violência em cada 100 mil habitantes do município. Em comparação com 2010 houve uma queda de 21,6%, ano em que foram registrados 41,8% para cada 100 mil habitantes.

Em números absolutos, Recife somou 276 assassinatos para cada 100 mil habitantes em 2000 e 187 casos em 2010, representando uma redução de 32,2%.

Homicídios

Dados do “Mapa da Violência” mostram que o Brasil está entre os países com maiores taxas de homicídios entre os jovens.

Em um ranking de 92 países do mundo, apenas El Salvador, Venezuela e Guatemala apresentam taxas de homicídio maiores que a do Brasil (44,2 casos em 100 mil jovens de 15 a 19 anos). Todos os três países têm economia menor que a brasileira, atualmente a 6ª maior do mundo (segundo o Produto Interno Bruto), não dispõem de um sistema de proteção legalizado como o Estatuto da Criança e do Adolescente (com 22 anos de existência) nem programas sociais com o número de beneficiários como o Bolsa Família (que entre outras contrapartidas orienta o acompanhamento da família matriculando os filhos na escola e mantendo em dia a vacinação).

O sociólogo e professor da Flacso, Julio Jacobo Waiselfisz, disse que em relação aos níveis de agressão a crianças e adolescentes existe uma diferença “gritante” entre o Brasil e países como Áustria, Espanha, Irlanda, Itália, Noruega, Polônia, Portugal e Reino Unido.

“A Inglaterra tem uma taxa de 0,2% de homicídios a cada cem mil crianças e adolescentes. O Brasil tem 13 vezes mais. Algo existe em nossa cultura que leva a uma atitude indisciplinadora e agressiva da família contra a criança. Isso significa que estamos numa situação que ainda devemos avançar muito para, realmente, ser um país que tem um mínimo de civilização com as crianças.”

O sociólogo explicou ainda que o Brasil tem uma legislação bem avançada, que estabelece os direitos dos cidadãos, das mulheres, dos idosos, das crianças e dos adolescentes, mas, por outro lado, essa mesma legislação nem sempre é lembrada, explicada e compreendida.

“Apesar dos 22 anos de vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, além do grande aparelho de recomendações, leis e resoluções, somos surpreendidos cotidianamente com os atos de extrema barbárie praticados, em muitos caos, pelas pessoas ou instituições que deveriam ter a missão de zelar pela vida e pela integridade dessas crianças e adolescentes: suas famílias e as instituições públicas ou privadas que, em tese, seriam os responsáveis pelo resguardo dos mesmo. Ainda não temos muito para festejar”, desabafou o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz.

O relatório completo do Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil pode ser acessado nos sites: www.cebela.org.br ou www.flacso.org.br .