Em 30 anos, 55 crianças e adolescentes morreram diariamente no Brasil por homicídios, suicídios ou acidentes. Esse total coloca o país nos primeiros lugares do ranking dos mais violentos para crianças e jovens no mundo. É o quarto onde mais se mata e o 12º onde mais se morre por acidentes de trânsito. Os dados são do Mapa da Violência 2012 – Crianças e Adolescentes do Brasil, estudo feito pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil).
Se de um lado os avanços em pesquisas e mais investimentos em saúde nos últimos 30 anos diminuíram os riscos de crianças e adolescentes morrerem de doenças e causas naturais no país, de outro, o Brasil ficou mais violento para essa faixa etária da população no mesmo período.
Entre 1980 e 2010, o total de mortes de pessoas entre 0 e 19 anos por doenças e causas naturais passou de 387 casos em cada 100.000 habitantes para 88,5 por 100 000 – queda de 77%. Já o total de crianças e adolescente que morre pelas chamadas causas externas, que incluem homicídios, suicídios, acidentes de trânsito e de outros tipos, cresceu. As vítimas de causas externas, que somavam 27,9 casos por 100.000 habitantes em 1980, alcançaram 31,9 casos por 100.000 em 2010. Um aumento de 14,3%.
A piora no quadro de mortes por causas externas foi puxada pelos homicídios, que cresceram 346,4% em 30 anos. Em 1980, morreram assassinadas 3,1 crianças e adolescentes em cada 100.000, total que alcançou 13,8 casos por 100.000 em 2010. Também aumentou o total de suicídios (38%) e de acidentes de trânsito (7%).
“Esses dados ajudam a revelar certos aspectos do Brasil que as vezes passam despercebidos”, afirma o pesquisador Julio Jacobo Waiselfisz, que coordenou a pesquisa. “O fato de no Brasil se matar 130 vezes mais crianças e adolescentes do que no Egito revela que algo está errado”.
São Paulo – Em 2010, São Paulo foi a capital brasileira com menor número de assassinatos de jovens e crianças, com 5,3 homicídios por cada 100.000 habitantes. No trânsito, entre as 27 Unidades da Federação, o estado ficou em 22º lugar entre os menos violentos para essa faixa etária.
No caso dos acidentes de trânsito, o estudo revelou que na última década diminuiu o total de mortes entre crianças de 2 a 13 anos. Nos extremos, porém, tanto entre bebês de 0 a 1 ano quanto entre adolescentes de 14 a 19, aumentou o número de vítimas.
Para os jovens, esse aumento ocorreu principalmente por causa do crescimento da venda e uso das motocicletas, que representaram 39% das mortes em acidentes de trânsito. Na sequência, vêm os automóveis (19,3%) e pedestres (12%).
“É uma idade complicada”, explica Dirceu Rodrigues Alves Júnior, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). “Chamamos o jovem de 14 a 18 anos que dirige de ‘aventurista’, aquele que pega a moto e a bicicleta e mergulha no meio do trânsito sem pensar muito nas consequências”.
Violência sexual – O estudo também tentou identificar os atendimentos feitos no Sistema Único de Saúde (SUS) de jovens e adolescentes vítimas de violência física e de abuso sexual. A fatia com maior quantidade de vítimas compreende crianças de 1 a 4 anos.
Em 2011, foram atendidas no Brasil 6.132 crianças vítimas de agressão, enquanto 1.607 jovens entre 15 e 19 anos foram parar nos hospitais por causa de violência física. “Nos casos de violência há ainda as cifras negras, casos que acabamos não conhecendo porque a vítima fica constrangida em pedir ajuda”, diz Waiselfisz.
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