Estado foi o que mais teve crianças e adolescentes assassinados; número cresceu de 203 para 1.172 de 2000 a 2010
Rodrigo Meneses e Euzeni Dalttro
opais@oglobo.com.br
SALVADOR. Em números absolutos, o estado que mais teve crianças e adolescentes assassinados em 2010 foi a Bahia: 1.172, quase seis vezes o observado em 2000, quando houve 203 assassinatos. Além disso, a Bahia também tem o maior número de municípios violentos para os jovens brasileiros. Das 13 cidades do país com maiores taxas de crianças e adolescentes assassinados em 2010, oito – inclusive a capital, Salvador – ficam no estado. Entre elas estão a primeira e a segunda colocadas, respectivamente Simões Filho (taxa de 134,4 homicídios por cem mil crianças e adolescentes) e Lauro de Freitas (94,6 por cem mil).
A rotina de violência enluta famílias baianas. Os casos de assassinatos de menores têm se multiplicado, motivados, principalmente, por envolvimento com o tráfico de drogas.
O drama da aposentada Ana Pires dos Santos Pinto, de 61 anos, é comovente. Seu filho adotivo, Moacir dos Santos Pinto, de 16 anos, foi executado no dia 12 de julho, com perfurações no pescoço e na cabeça em um matagal no Parque das Mangabas, no município de Camaçari, entre as cidades de Lauro de Freitas e Simões Filho, na região metropolitana de Salvador . O fim de Moacir foi muito diferente do que a mãe adotiva havia sonhado para ele.
– Esperava que ele fosse um menino estudioso, obediente e me desse alegrias. O que eu mais desejava era que ele fizesse uma faculdade – lamentou aos prantos ao rememorar o caso.
A polícia ainda não tem suspeito nem sabe a motivação do crime. Conforme informações da delegacia de Camaçari, a forma como o jovem foi morto caracteriza execução.
– Ouvi três tiros. Saí para olhar e vi quando três homens saíram correndo do matagal – disse um morador.
Ana contou que, na noite do crime, foi à igreja com a família e deixou Moacir em casa. Na volta, o adolescente já havia saído e não voltou para dormir. Foi ela quem reconheceu o corpo do filho, instantes após ser encontrado por um morador.
– Foi um choque muito grande. Não tive coragem de voltar lá. Deus abençoe os responsáveis por essa malvadeza. Abençoe para que eles não façam isso com mais ninguém – disse Ana, que afirmou não conhecer os amigos do filho e não saber se ele tinha envolvimento com o mundo do crime.
Outros crimes são causados por ciúmes. Foi o que vitimou a adolescente, de 15 anos, Léia Pimentel Santos, morta pelo namorado, Alan, com tiros no rosto, no dia 4 de julho, no bairro de Canabrava, periferia de Salvador
Segundo uma testemunha, que pediu anonimato, depois de Alan ligar várias vezes, Léia atendeu o celular e disse que estava na casa de uma amiga.
– Ele ligou de novo e mandou ela sair. Fui à sala, e ela não estava. Ainda pensei: Léia saiu sem me avisar. Depois, ouvi barulho de tiro. Mas foi minha filha de 4 anos que me chamou para mostrar Léia caída fora da casa – contou a testemunha.
Vanessa, de 18 anos, irmã da vítima, disse que Alan tinha muitos ciúmes da garota, e por isso a jovem não queria mais namorá-lo.
– Eu acho que eles estavam namorando escondidos. Fiquei sabendo disso pelas amigas dela – contou. Depois de passar o dia no trabalho, o servente Valério Pimentel, de 45 anos, soube da morte da filha. Lamentou que ela não tivesse relatado as agressões sofridas antes.
– Estava acontecendo tanta coisa que eu nem sabia. O pessoal comentou que ele (Alan) até já tinha dado uma coronhada nela.
A mãe de Léia, Sônia Maria dos Santos, convive com a dor:
– Estou acabada. Um pedaço meu está junto com ela. A pior dor de uma mãe é perder um filho.
* Da Agência A Tarde
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