A pedido dos pais de alunos, a escola municipal Sebastiana Cobra, em São José dos Campos (SP), instalou dezesseis câmeras de segurança pelo prédio, inclusive nos banheiros utilizados pelos estudantes. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, os equipamentos são fixos e voltados para os lavatórios, o que garante a privacidade. Ainda de acordo com o órgão, apenas uma mãe reclamou da ação e teria solicitado a retirada dos equipamentos.
O pedido específico das câmeras no banheiro teria sido feito para evitar depredações no espaço, como lixos espalhados pelo chão e entupimento de vasos e pias, e também para coibir intimidações e situações de bullying entre alunos de diferentes idades. “Os alunos se sentem mais seguros com o monitoramento. Antes havia pichações e intimidação dos alunos maiores com os menores”, afirmou a chefe de divisão de ensino fundamental da Secretaria da Educação, Glícia Maria Figueira.
Para Cleide Bezerra Soares, 48, mãe de um aluno do 6º ano, as câmeras significam segurança, pois “evitam drogas e evitam brigas”. “Estou ‘passada’ com a mãe que foi fazer essa reclamação. Estamos fazendo um abaixo assinado para não permitir que tirem as câmeras, porque está muito bom assim”, disse Cleide. Ela também afirmou que “seria bom colocarem câmeras dentro das salas de aula para os pais terem acesso às imagens de casa e poderem monitorar as atitudes dos filhos e dos professores”.
Heliana Lopes, 38, é mãe de uma aluna do 9º ano e também concorda com o monitoramento: “Essa história das câmeras é uma reivindicação dos pais há muito tempo, não é uma coisa que surgiu agora. A gente optou por essas instalações pela segurança dos nossos filhos e pela manutenção do patrimônio público”. Heliana disse que a aprovação das filmagens foi feita em uma reunião com mais de 350 pais e que todos foram a favor. Segundo ela, há um “pequeno número de pais reclamando agora”, mas eles não teriam participado das discussões.
A reportagem do UOL tentou falar com a mãe que seria contra a instalação das câmeras, porém a Secretaria Municipal de Educação da cidade não disponibilizou o contato e um número de telefone encontrado não atendeu durante todo o dia.
Invasão de privacidade
Para Miriam Abramovay, Coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da FLACSO (Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais), o uso de câmeras e sistemas de monitoramento nas escolas é uma forma de se tirar o foco da discussão sobre a violência e colocá-lo nas medidas repressivas.
“É muito mais fácil colocar polícia, câmera e circuito interno, mas não melhora tudo, só piora. Porque não se discute o problema estrutural das más relações, das pessoas se bateram e se xingarem no ambiente estudantil. Agora, colocam câmeras e acham que tudo vai ficar maravilhoso. No começo pode até ser, mas não vai resolver o problema, ele só vai mudar de lugar”, afirmou.
Ela ainda destaca que os pais deveriam pensar que essas filmagens são uma invasão da privacidade nas escolas. “As pessoas passam a ser monitoradas todo o tempo e isso não é escola, isso é prisão, é caverna”, disse Miriam.
A chefe de divisão da secretaria de educação afirmou que os pais que desaprovam a medida são convidados a dialogar com a comunidade escolar, mas também disse que não está em discussão a retirada dos equipamentos, já que foi uma decisão aprovada pela maioria.
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