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Tanto agressores quanto vítimas precisam de ajuda profissional e professores devem encaminhar os casos a um superior

 

Recentemente, tivemos alguns casos no Brasil que provam que a violência nas escolas virou um fenômeno globalizado.  O mais atual é o triste episódio em que um estudante atirou em sua professora e logo depois se matou, em uma escola em São Caetano do Sul, na grande São Paulo. Há seis meses atrás, outro caso que chocou a sociedade foi a tragédia em Realengo, no Rio de Janeiro, em que um ex-aluno atirou contra estudantes, nas salas de aula da escola onde estudou.

Esta onda de crimes e ódio nos jovens alunos brasileiros nos leva a refletir: quais fatores influenciam este tipo de crime? Para a socióloga coordenadora da área de juventude e políticas públicas da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), Miriam Abramovay, uma das questões é descobrir o que está acontecendo dentro dessas escolas. “Se o motivo não for diagnosticado não se pode fazer propostas relacionadas a essas questões de violência”, observa. A profissional lembra também que o ocorre dentro da escola tem a ver com as relações sociais.

Ainda segundo Miriam, há violência também em escolas privadas, mas de uma outra forma. “As condições da escola pública não são as mesmas da escola privada no Brasil, no entanto, atitudes violentas e agressivas ocorrem nas duas”, alerta.  A pesquisa realizada pela socióloga em 2002, no qual perguntavam para professores e alunos se a violência atrapalhava, se eles tinham vontade de ir para a escola ou sentiam medo dentro do ambiente escolar, mostrou índices altíssimos.

E os professores, como devem reagir diante de um caso de violência? Para a psicopedagoga Maria Irene Maluf, por ser um movimento em geral inesperado e que ocorre em ambiente de trabalho, é necessário manter a calma e levar o caso a um superior imediatamente. “Esconder o ocorrido torna o professor refém de uma situação intolerável”, explica. Maria Irene ressalta também que a  escola, como qualquer empresa, deve tratar o problema com a seriedade devida, pois é inconcebível que nada faça ou que não procure com firmeza apurar os fatos e tomar as medidas legalmente cabíveis.

É o que também diz a psicóloga Luiza Burlamaqui Bastos. “É de suma importância que o assunto seja tratado por meio do diálogo entre todos os integrantes da comunidade escolar, em um sentido transversal às disciplinas,  para o desenvolvimento do trabalho de prevenção e combate à violência nas escolas”, diz.

Luiza também sugere um modelo de solução para o problema: “começar a falar em plano de convivência escolar, para não se chegar à situação de violência, é uma mudança que pode ajudar a evitar os casos”. Miriam Abramovay partilha da mesma opinião. “Penso que a primeira coisa a fazer é conhecer o que acontece dentro das escolas, porque é muito difícil você fazer propostas concretas se você não sabe o que está acontecendo”, explica.

Especialistas dão dicas sobre como superar os traumas

Sofrer um ato de violência sempre é muito difícil de superar. Então, como o problema pode atrapalhar no rendimento escolar? Segundo a psicóloga Luiza Burlamaqui Bastos, há inúmeras pesquisas que apontam que a prevalência de violências nas escolas com suas diferentes manifestações (física, psicológica, verbal, bullying, institucional, sexual, etc.) tem forte influência não só no rendimento escolar como também na auto-estima de alunos e professores.

“O fenômeno da violência nas escolas pode interferir até mesmo na qualidade de ensino, uma vez que o professor também se faz alvo dessa realidade”, observa. Já em relação às causas, a psicóloga explica que para essa análise, de fato, deve ser levado em conta o contexto social, histórico e familiar no qual a criança se insere para avaliação de quais motivos que levaram a mesma a cometer atos de violência contra outrem. “Pesquisas voltadas para o estudo dos efeitos da prática de bullying às vítimas mostram indícios de que a própria vítima também posteriormente pode se tornar o agressor”, conta.

Tanto agressores quanto vítimas precisam de ajuda profissional, mas também de arcar com a responsabilidade de seus atos.  “A escola é um local onde não se imaginava que a violência pudesse tomar as proporções que hoje tomou. Palco de agressões, ela mostra o quanto a educação familiar está deixando a desejar e o quanto muitos profissionais estão longe do perfil que educadores deveriam apresentar”, considera Maria Irene Maluf.