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Confira entrevista de Miriam Abramovay, coordenadora de Estudos e Políticas sobre a Juventude da Flacso Brasil sobre os dados da violência nas escolas do Paraná revelados pelo Anuário Brasileiros de Segurança Pública, publicado no último dia 10 de setembro.
“A última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicada na semana passada, traz, entre outros levantamentos, um panorama da percepção da violência escolar pelo Brasil. No Paraná, dos 4.576 diretores de escolas que responderam a pesquisa, 72,9% (3.337) disseram já ter visto agressão verbal ou física entre alunos e 54,1% (2.474) informaram que presenciaram agressão de alunos a professores ou funcionários.
Os índices do Paraná estão um pouco acima da média nacional (69,2% e 48,9%, respectivamente, no país). Na comparação entre as 27 unidades federativas, no extremo está o Distrito Federal, onde 79,3% afirmaram ter presenciado agressão entre alunos e 62,9%, de alunos a professores e funcionários. As menores taxas são do Amazonas – 52,1% e 28%.
Os números fazem parte de uma compilação de dados da Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Prova Brasil) de 2017, na qual profissionais de educação responderam a questões sobre situações observadas na escola.
A consulta foi feita com profissionais de instituições públicas e privadas. Na rede estadual, diante do quadro, o governo do Paraná instituiu neste ano o programa Escola Segura, voltado ao combate à violência nas instituições de ensino e arredores. Veja aqui o que diz o governo.
Ameaças de alunos a professores e diretores
Para a pergunta “você foi ameaçado por algum aluno?”, 2.464 professores ou diretores do Paraná responderam que sim, o que representa 4,6% de 53.663 respondentes das duas categorias no estado. Outros 24.845 (46,3%) declararam não ter sofrido ameaça, e 26.354 (49,1%) não responderam à questão. Em todo o país, 4,4% disseram ‘sim’ à questão.
“Em estudos qualitativos sobre o tema, as ameaças se dão principalmente em função de desavenças por notas, por problemas disciplinares, por suspensões, o que gera um clima de tensão cotidiana já que muitas vezes os estudantes reagem de forma agressiva e mesmo com violência física, o que gera sentimento de insegurança”, comenta, em texto publicado no anuário, a socióloga Miriam Abramovay, doutora em ciências da educação e coordenadora da área de Juventude, Políticas Públicas e Violência nas escolas da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais.
Em outras questões, 524 professores e diretores do Paraná disseram já ter sido vítimas de atentado à vida no local de trabalho; 1.404 declararam ter sido furtados (sem uso de violência); e 302 foram roubados (com uso de violência).
“Chama a atenção que em todas as perguntas sobre violência dura – aquelas previstas no Código Penal, como atentado, ameaça e roubo – quase metade dos diretores e professores não responderam”, avalia Miriam. “Pode-se conjeturar que existe medo de responder este tipo de pergunta, por temor a represálias.”
Álcool, drogas e armas na escola
Além das situações de agressão, 662 diretores (14,5% de 4.576) declararam que alunos frequentaram aulas sob efeito de álcool; 933 (20,4%) disseram testemunhar estudantes sob efeito de drogas ilícitas; 653 (14,3%) viram alunos com arma branca e 71 (1,6%) presenciaram estudantes portando arma de fogo.
“Segundo a literatura internacional sobre o tema, levar uma arma para a escola pode ser símbolo de impor respeito, proteger-se e defender-se. A arma é um forte símbolo de poder, com marcas de gênero para demonstrar a masculinidade”, diz a socióloga. Segundo ela, as relações entre os pares são as mais complicadas nas escolas.
“Há muitos fatores que contribuem para que uma escola seja mais ou menos violenta. No entanto, há que reiterar a necessidade de políticas públicas no nível dos Estados e Municípios sobre o tema”, pondera a pesquisadora. “A melhoria do clima escolar e das relações sociais tem impacto direto não somente na vida, na morte e na percepção do que é positivo e negativo, mas também no ensino-aprendizagem, na repetência, na evasão e principalmente na possibilidade de a escola voltar a ser um local de prazer e aprendizagem.”
Ações governamentais
Procurada pela Gazeta do Povo, a Secretaria Estadual da Educação e do Esporte (Seed) destacou, entre outras ações, o trabalho realizado no programa Escola Segura, voltado ao combate à violência nas escolas estaduais. A iniciativa, que prevê a atuação de policiais militares de reserva em escolas estaduais, foi anunciada pelo governo do estado em março deste ano, dois dias após episódio trágico que terminou com a morte de dez pessoas na escola Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo.”