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Por O Globo

Crime. Jovem assassinado na comunidade Risca Faca, em Maricá. Estado do Rio tem índice de violência comparável ao da Colômbia - 10-9-2015 / Daniel Marenco/O Globo

Crime. Jovem assassinado na comunidade Risca Faca, em Maricá. Estado do Rio tem índice de violência comparável ao da Colômbia – 10-9-2015 / Daniel Marenco/O Globo

BRASÍLIA. Um estudo revela uma relação cruel entre os níveis de escolaridade e de violência: quanto menor o grau de escolaridade, maior o risco do jovem ser vítima de homicídio no Brasil. Cruzando os dados dos Mapas da Violência, produzidos desde 1998, o sociólogo Júlio Jacobo demonstra, por exemplo, que a chance de um jovem com idade entre 15 e 19 anos e com apenas três anos de estudo morrer assassinado é 4.473% maior de quem estuda doze anos ou mais.

Outro dado assusta: na faixa etária que registra maior vitima de homicídio – de 20 a 29 anos – para cada vítima que estudou doze anos morrem 66 jovens da mesma idade, só que com zero a três anos de estudo.

O professor Jacobo cunhou essa constatação com a expressão “blindagem educacional”, a partir dessa comparação das taxas de homicídio com relação às faixas de escolaridade. O estudo esse caderno da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais – Flacso Brasil – foi batizado de “Educação: blindagem contra a violência homicida?”.

— O estudo evidencia a capacidade protetiva da educação em relação aos homicídios. Essa blindagem é percebida principalmente entre os grupos mais jovens da população, justamente o setor mais afetado por este tipo de violência — sustenta Jacobo.

As evidências apontam que a situação mais aguda é entre os que tem entre 20 a 29 anos. Nessa faixa, a taxa de homicídio é de 52,9 por 100 mil. Mas é também a faixa etária em que essa blindagem via educação atinge o maior nível de proteção. Para os que tem doze anos ou mais de estudo, a taxa dehomicídio foi de 4 por 100 mil. E a taxa para até três anos está na outra ponta: 264 por 100 mil.

O estudo de Jacobo mostra também que essa capacidade protetiva do nível educacional “perde força” entre os adultos. Os percentuais de diferença da violência entre os com maior escolaridade para os de menor, no “quesito” homicídio, cai para 912%, um patamar ainda surpreendente. Entre os que tem entre 30 a 59 anos de idade, e 12 anos de estudo ou mais, a taxa de homicídio, em 2014, foi de 4,1 por cada grupo de 100 mil. Na faixa de 0 a 3 anos de estudo, essa relação foi de 41,6 por 100 mil. Aí está a diferença de 912%.

Jacobo, no estudo, cita as controvérsias nos debates sobre a solução da violência. Diz que temas como a redução da maioridade penal tem ganhado as ruas e o imaginário de diversos segmentos da população.

— Construir mais cárceres, mais delegacias especializadas, mais necrotérios e mais punição têm sido as saídas aconselhadas por essas propostas, com ecasso embasamento e nenhum estudo que aponte a necessária eficiência dessas políticas — diz Jacobo, que, reforçado com pelos dados da blindagem educacional, aponta outro caminho.

— Não vão ser delegacias especializadas, nem encarceramentos massivos que permitirão superar a onda de violência que afeta e atemoriza a população. Vai ser o singelo e histórico ato de escolarizar, avançar com nossa educação para a juventude, que vai atingir diversos problemas de um só golpe: cimentar o desenvolvimento econômico, social e político do país, o que não é pouca coisa — diz Jacobo. — Tivemos oportunidade de evidenciar que essa capacidade protetiva, essa blindagem que o nível educacional permite, concentra-se primordialmente na faixa jovem, precisamente o setor mais afetado, de longe, pela violência homicida”.