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‘Apresentei provas sólidas e suficientes’, afirma Thais Santos Moya.
Denúncia foi feita em dezembro de 2014 e gerou comissão e sindicância.

Thais Santos Moya durante o depoimento à CPI dos Trotes (Foto: Divulgação/Alesp)

Thais Santos Moya durante o depoimento
à CPI dos Trotes (Foto: Divulgação/Alesp)

Um ano e dois meses depois de a ex-aluna Thais Santos Moya posar no Facebook uma denúncia  de assédio contra um professor, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) divulgou o resultado da sindicância criada para analisar o caso. A comissão concluiu que a denúncia não foi comprovada e encerrou o processo. A ex-estudante vai recorrer.

“Eu tenho total convicção de que apresentei provas sólidas e suficientes para cada uma das diversas denúncias que fiz”, disse Thais Moya. O G1 solicitou uma entrevista à universidade, mas a instituição informou que se manifestaria por nota.
No texto, a UFSCar informou que a comissão concluiu os trabalhos de apuração em dezembro do ano passado, mas o resultado da sindicância só foi divulgado na terça-feira (16) porque teve de passar por análise da Procuradoria Federal, trâmite padrão nesse tipo de investigação.

A universidade disse que, no processo, foram ouvidas 17 testemunhas, além da autora da denúncia e do professor acusado, e “a Comissão concluiu que a denúncia não foi comprovada”. Sendo assim, não há necessidade “de acusação ou de mais investigações sobre o tema, em virtude da ausência de provas e/ou indícios com um mínimo de robustez”.

Ainda de acordo com a UFSCar, as partes envolvidas tomaram ciência da decisão na segunda-feira (15) e foram informadas da possibilidade de acesso à íntegra do processo.

Acesso
Na segunda-feira(15),Thais divulgou um vídeo criticado a falta de acesso ao processo. A doutora em sociologia disse que não teve, por exemplo, acesso imediato ao relatório da sindicância para poder se manifestar em até dez dias.

“Como poderia exercer esse direito se a Procuradoria da UFSCar, desde dezembro, me negou mais de uma vez o acesso ao relatório?”.

Na terça, após a divulgação do arquivamento, ela também questionou o posicionamento da comissão quanto a outras denúncias que apresentou. “Tais denúncias foram acatadas inicialmente e devidamente encaminhadas a quem de direito. Porém, estranhamente, a portaria que instaurou a atual comissão ignorou todas elas, instaurando sindicância apenas, mas não menos importante, para o caso de assédio sexual. Todas as provas – não apenas de infrações, mas também de crimes – foram exaustivamente ignoradas pela universidade nos últimos 14 meses”, afirmou.

“Por mais que estivesse confiante, sempre soube que o lado mais forte, dotado de poder institucional, não era o meu. Desde que as primeiras denúncias surgiram, a universidade deixou evidente que seu interesse não era investigá-las, mas silenciar e abafar o caso”.

Por fim, disse que não pretende encerrar o assunto. “Os últimos meses têm demonstrado que, em todo país, as mulheres estão se libertando do medo e denunciando as violências de que são constantemente vítimas. Isso é irreversível e o mundo não está preparado para mulheres que não se calam. Não me calei, nem me calarei”.

Entenda o caso
A socióloga raspou seus cabelos no fim de 2014 como forma de protesto contra o assédio que teria sofrido por parte de um professor. Em um post no Facebook, ela mostrou as fotos de antes e depois do corte e escreveu um desabafo sobre a situação.

A mensagem foi compartilhada milhares de vezes, contabilizou diversos comentários e foi registrada dias depois na ouvidoria da UFSCar, que começou a apurar o caso.
“Raspei meus cabelos porque eu fui, duas vezes, agarrada e beijada por meu professor e (ex) orientador sem o meu consentimento. Raspei a cabeça porque, como quase toda vítima de assédio, passei dois anos amedrontada e coagida pelas relações de poder que perpassam as consequências de denunciar o ocorrido”, escreveu na época.

Ex-aluna da Universidade Federal raspou o cabelo em protesto (Foto: Reprodução/Facebook)

Ex-aluna da Universidade Federal raspou o
cabelo em protesto (Foto: Reprodução/Facebook)