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Nesta quarta-feira (20), no Dia da Consciência Negra, após o IPEA revelar dados apontando a Paraíba como um dos três estados com mais mortes de negros no país. O Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), através do professor Eduardo Fernandes de Araújo lembrou que ainda existem violências que não resultam na morte. Caso da violência física praticada pela Polícia nas abordagens de negros e das violências psicológicas sofridas nos postos de saúde e nas escolas pelos negros.O professor resgatou também uma outra pesquisa, a do Mapa da Violência, realizada no ano passado, que já apontava a Paraíba como a segunda capital mais violenta em relação aos negros.Com os dois dados em mãos, mas frisando a necessidade de diminuir os abusos das entidades do Poder Público, Araújo defendeu uma política mais forte de controle externo das instituições. “O ideal é que a população se sentisse a vontade para denunciar algum tipo de descaso e desmando. Para enfrentar a violência o governo poderia implantar uma política para incentivar essas denuncias”, afirmou.Pela ótica do estudioso, a principal violência física do estado hoje ainda é pratica pela Polícia, que utiliza da força enquanto forma de correção de conduta, mas existem ações de violência psicológica nos postos de saúde que se negam a atender mulheres negras, além do preconceito vivido nas escolas pelos negros.“Isso também é um dado muito forte da violência”, avalia. Contudo, o professor entende que essa mudança de postura só será alcançada com o tempo, com o acesso a informação e com debate da sociedade. “Por enquanto a data de hoje ajuda a trazer uma maior reflexão sobre o tema”, acredita.Segundo Araújo, o preconceito está ligado às questões econômicas e até aos aspectos culturais. Sobre políticas públicas para combater o preconceito, o estudioso explica que hoje o Estado tenta fazer isso através da promulgação de leis e principalmente com mecanismos de corregedoria e ouvidoria de Policia, visando minorar um pouco a violência praticada pelo próprio Estado. “É uma avanço, pequeno, mas é avanço”, entende.Ações afirmativas – No entender de Araújo, a principal política hoje contra o preconceito são mesmo as ações afirmativas como as de cotas na educação, nos concursos públicos e até nos cargos políticos. “São dados positivos para a juventude pensar no futuro e minorar esses dados”, pontua.Apesar de considerar as ações como um meio para transformar a realidade, Araújo considera que só a longo prazo o Brasil, e a Paraíba, poderão perceber o resultado dessas medidas. “Isso deve começar a surgir em 10 anos. Podemos ter pequenos decrescimentos”, defendeu, lembrando que só há poucos anos o Brasil começou a catalogar esses dados. “Até o ano de 2000 sequer tínhamos esses números computados”.Sobre as polêmicas em relação a política de cotas, Araújo, defende objetivamente: “já tem uma política de reserva de vagas para mulheres e política de concurso público para deficientes”, argumento, considerando normal que essa política seja ampliada para os negros.Mapa da Violência – Os dados de 2012 do Mapa da Violência apontaram que para cada assassinato ocorrido na Paraíba, a possibilidade de ter morrido uma pessoa negra é de 99%. “A população negra morre mais jovem que a branca e três vezes mais”.Para identificar negros, são considerados dados do IBGE, que aponta como integrantes deste segmento todos que se autodenominam negros e pardos. No Brasil hoje cerca de 58,8% da população é considerada negra. Na Paraíba os negros chegam a cerca de 38%.